sábado, setembro 01, 2012

Lições de treino, lições de vida...

Muitas das competências e lições apreendidas na minha vida estão relacionadas com o treino. Não surpreende pois já a muito que é a minha profissão, ainda mais tempo o meu hobby e se calhar em determinada altura a e sem conotações negativas a minha obsessão. Como dizia anteriormente; no final de 2008 fui convidado para exercer funções como instrutor de musculação no Pro4gym. Cargo que aceitei com muito gosto. O dono já tinha trabalhado comigo e conhecia a minha forma de funcionar. Entretanto no início de 2009 voltei para o Korpus health club, onde também já tinha trabalhado entre 2000 e 2003. Ficando assim com um horário laboral sobrecarregado, normalmente iniciava o meu dia de trabalho as 08:00 e só acabava pelas 21:00 ou 22:00. Em Abril desse ano o proprietário do Pro4gym propôs que eu representasse o ginásio no Open de Vila do Conde que se iria realizar no início de Novembro. Uma das provas mais prestigiosas do calendário nacional em que não existe divisão por categorias e na qual comparecem os melhores atletas nacionais. Como gosto de desafios e como percebi como lisonjeira a confiança depositada em mim aceitei de imediato. Visto isto a gerência do ginásio procurou apoio e consegui patrocínio da loja Pura fibra, que se dedica sobretudo a comercialização de suplementos desportivos. Chegamos pois a acordo e o Sr.: Fernando o proprietário da loja explicou-me que depositava o seu voto de confiança em mim pois já me tinha visto a treinar e mesmo a trabalhar em outros ginásios e já tinha percebido o meu gosto, dedicação e disciplina relativos ao treino. Pois bem, nesse ano iria participar no III Open de Culturismo de Vila do Conde como atleta Pro4gym/Pura fibra. O passo seguinte seria delinear a estratégia a seguir, na minha juventude já tinha competido por duas ocasiões acompanhado por dois preparadores diferentes e das duas vezes e segundo a minha perspectiva as coisas não correram como desejado, talvez a preparação não tenha sido a melhor ou eu não tenha seguido à risca aquilo que se esperava de mim. Mas desta vez eu tinha aceite um compromisso com duas pessoas que tinham depositado a sua confiança em mim e como tal assumi por inteiro a minha própria preparação tudo ficou a depender de mim dessa forma não haveria desculpas. Então os passos foram os seguintes: 1. Avaliar o meu nível de forma física. Nessa altura estava com 99 kg de peso corporal, é verdade que estava em grande forma em termos de força, estava “grande” e estava… gordo, numa competição como a de culturismo em que os competidores são avaliados de forma visual e em que se espera se apresentem com uma percentagem de gordura muito abaixo da média isso são más noticias. 2. Analisar as experiências anteriores, aproveitar o correcto e não voltar a cometer os erros. 3. Delinear a estratégia nutricional inicial. Calcular as necessidades nutricionais em valores calóricos e de percentagem de macro nutrientes. Ao mesmo tempo procurar e entender o máximo de informação relativa a nutrição e o seu efeito sobre o metabolismo e o sistema hormonal. 4. Ajustar o plano de treino aos novos objectivos. Treinar os pontos fracos. Melhorar a proporção e simetria. Não esquecer que na prova não iriam existir divisões de categorias por peso ou outras. E eu tinha a percepção que iria defrontar alguns dos melhores culturistas nacionais, alguns deles com tamanho impressionante. Eu sabia que em termos de estrutura não tinha como competir com eles então a minha aposta seria na qualidade muscular, numa percentagem de gordura corporal muito baixa, na proporção, simetria e definição musculares que me aproximassem o máximo possível da perfeição. 5. Treinar com o máximo de frequência sem afectar a recuperação. Ter a noção do meu horário de trabalho bastante pesado e da forma como isso poderia afectar a minha “performance”. 6. Compreender que 7 meses de preparação para algo deste género, pelo menos no nível de má forma em que me encontrava são pouco tempo, logo não poderia haver falhas. 7. Utilizar os novos conhecimentos adquiridos, adaptar os planos nutricional e de treino ao longo da preparação de acordo com as novas necessidades com as quais me fosse defrontando. 8. Simplificar ao máximo todos estes factores. A preparação em resumo: Inicio em Maio de 2009, encarei o treino e a alimentação com uma disciplina Espartana. Durante os meses que se seguiram e ate ao dia da competição cingi-me ao plano de treino adaptando sempre que necessário as necessidades e aquilo que por vezes o meu corpo me dizia. Nunca falhei uma refeição durante esse tempo, todas as refeições foram pesadas durante esse período respeitando a ingestão correcta de calorias e de macro nutrientes. Não obstante tive que manter a minha vida profissional, social e familiar de boa saúde. Em Julho foi o aniversário do meu filho, mas mesmo assim durante a “festinha” mantive a disciplina na dieta e a boa disposição. Entretanto recebi a informação que o Campeonato Nacional da IFBB por coincidência se iria realizar no dia anterior ao Open de Vila do Conde e então decidi inscrever-me também nessa prova. Dia da competição, Campeonato Nacional de Culturismo da IFBB, prova que se realizou em Aveiro, com todo o nervosismo inerente a esse tipo de ocasiões, apresentei-me em palco na categoria +80kg com o peso corporal de 83kg ao lado de alguns atletas com mais de 90kg. Mas mesmo assim consegui arrecadar o lugar de 1º classificado e subsequente apuramento para a Taça de Portugal, prova sem divisão por categorias só para atletas que já se tinham apurado como primeiros classificados nas suas próprias categorias ao longo das várias provas do calendário nacional. E onde me classifiquei no 4º lugar a frente de atletas como o campeão do ano anterior. Estava radiante. No dia seguinte o Open de Vila do Conde, depois da vitória do dia anterior estava bastante confiante. Como previsto eu era o atleta mais leve em palco mas destacava-me pela qualidade, nessa prova qualifiquei-me em 3º lugar, tendo sido o vencedor o Milton Anjo, campeão pelas duas federações e que tinha competido no Mundial no fim de semana anterior. Parece que a minha estratégia deu bons frutos. Lições aprendidas durante os sete meses de preparação: 1. O estudo e compreensão e aplicação da nutrição. A sua importância na transformação corporal, na manutenção de uma boa saúde e da forma como afecta o nosso metabolismo. 2. Uma maior compreensão da adaptação do organismo ao esforço e a disciplina que requer a competição desportiva. 3. Experiência e conhecimentos que aplico com outros atletas de competição. 4. A disciplina que canalizo para outros aspectos da vida, se aguento sete meses neste tipo de regime tudo o resto é um “passeio no parque”. 5. A capacidade de assimilar, compreender, aplicar e simplificar conceitos. Por vezes limitamo-nos tornando as coisas mais complicadas do que realmente são. Ao complicar as coisas não as tornamos mais efectivas, apenas as tornamos mais complicadas. 6. Sou capaz de qualquer coisa pelos meus próprios meios. Basta que para isso me decida. 7. É preciso prescindir de pequenas coisas para conseguir algo maior.

1 comentário:

Mestrado disse...

Parabéns Paulo e obrigado pela inspiração.

A perfeição, ou algo substancialmente mais próximo, depende exclusivamente do nosso gosto, dedicação e disciplina.

Abraço.
Tofu-Man